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“Síndrome da cabana”: um processo adaptativo

quarta-feira 01/07/2020

"Síndrome da cabana": um processo adaptativo e normal que se espalha após meses de quarentena na Argentina e em outros…

Tercer Ángel

“Síndrome da cabana”: um processo adaptativo e normal que se espalha após meses de quarentena na Argentina e em outros países do mundo.

É um conjunto de sintomas que configuram um estado mental ansioso, do qual é dada preferência ao refúgio do lar contra o perigo que o mundo externo aparentemente representa.

Atualmente, o conceito reapareceu devido aos efeitos do isolamento, mas antes era usado para pensar o que acontece com os presos, vítimas de seqüestros, astronautas ou após longas estadias no hospital.

Basicamente, trata-se do medo de sair, de interagir com os outros e de se dar bem na vida pública. Pode se manifestar com pensamentos catastróficos, irritabilidade, impaciência, tédio, dificuldade de concentração, inquietação, taquicardia, transpiração e comportamentos de esquiva.

Desde o século XIX

Embora existam múltiplas versões da origem da noção de síndrome da cabana, ela apareceu na literatura pela primeira vez, escrita por BM Bower. A mulher por trás do pseudônimo era Bertha Muzzy Sinclair, autora de dezenas de romances e contos.

A escritora nasceu em Montana em 1871 e viveu em uma das fazendas características nessas regiões áridas. Depois de se tornar professora, fugiu com o primeiro marido e começou a escrever para editoriais.

A cabana onde ela morava a inspirou a escrever Cabin Fever (1918), um romance emoldurado em um dos longos invernos de solidão que passavam nessas latitudes.

Décadas depois, em 1980, o psicólogo Paul Rosenblatt teve a idéia de estudar os efeitos de longos períodos de confinamento na população americana.

Na posteridade, a categoria foi usada para explicar os distúrbios emocionais que podem surgir depois de isolados, mas nunca se tornou uma condição ou distúrbio psicológico.

Atualmente, é apresentado um novo cenário, configurado pela pandemia iniciada no início de 2020 e pelos impactos emocionais pós-quarentena.

As circunstâncias levaram muitos pesquisadores a retomar a noção da Síndrome de Cabine para estudar o comportamento da população.

Nesse sentido, a Universidade de Valência descobriu que uma em cada três pessoas tem medo de sair para a rua e voltar às suas rotinas de trabalho e sociais na Espanha.

Que 33% dos entrevistados declararam ter medo de contrair o vírus e uma predileção por permanecer em suas casas.

A pesquisa foi realizada pelo GIPEyOP (Grupo de Pesquisa sobre Processos Eleitorais e Opinião Pública) da Universidade de Valência. Eles foram baseados em 8.387 respostas coletadas entre abril e maio de 2020, período em que a desaceleração das medidas de contenção começou.

Despatologizar comportamentos normais

Diferentemente da experiência que inspirou a BM Bower, hoje o clima não é o impedimento para sair, mas o medo de contraer o COVID-19.

Mas não apenas a doença gera rejeição, pois também adiciona um retorno à vida hiperativa e agitada antes da pandemia.

Angústia, desamparo, solidão, falta de entes queridos, dificuldades de convivência e incerteza são sentimentos normais experimentados durante o confinamento. Mas, ao sair, o ser humano busca hoje estratégias adaptativas, denominadas Síndrome da Cabana.

Como não é uma doença tipificada nos manuais de saúde mental, mas um conjunto de sintomas relacionados ao espectro de ansiedade, não há conselhos, protocolos psicológicos ou medicamentos prescritos nesses casos.

É um estado normal e inevitável que requer compreensão, respeito e tomada de decisão apropriada. Não é um desejo de patologizar tudo.

O slogan é, então, iniciar o processo inverso ao seguido no início do isolamento. Como alegoria platônica, a luz total produz cegueira, portanto a mudança deve ser progressiva.

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Uma mulher usa máscara facial e luvas contra a propagação do novo coronavírus ao atravessar a Avenida Callao vazia em Buenos Aires, em 30 de março de 2020. – O isolamento social obrigatório foi estendido até 12 de abril na Argentina, anunciou o governo no domingo como 820 pessoas infectadas e 20 mortas foram registradas até agora no país sul-americano. (Foto de RONALDO SCHEMIDT / AFP)

Quando é preocupante?

Até certo ponto, o medo é uma emoção adaptativa básica do ser humano. Mas quando deixa de ser um meio de proteção e começa a paralisar, é o ponto em que se torna preocupante.

Embora dependa do especialista, muitos recomendam que o período de adaptação ao “novo normal” não dure mais de três semanas.

Algumas pessoas devem prestar mais atenção às manifestações habituais ou problemáticas de comportamento, devido à predisposição para provocar pensamentos circulares, ruminantes e negativos. Especialmente aqueles que tiveram ansiedade, depressão, hipocôndria ou dificuldade em se relacionar socialmente.

Algumas medidas práticas a considerar se a solidão se tornou viciante são:

  • Concentre-se no prazer que algumas atividades ao ar livre geram, seja a natureza, tomando um café, vendo um ente querido.
  • Identifique quando o medo aparecer, assuma e verbalize, pode até ser com um profissional.
  • Encontre o equilíbrio do consumo de notícias e evite o infodêmico.
  • Trabalhar em uma perspectiva realista da situação atual, sem especulações e com dados objetivos e verificados.
  • Durma as 8 horas necessárias.
  • Organize a rotina com tempo de sobra em cada atividade para poder realizá-las de maneira mais descontraída, como a maneira de trabalhar pela manhã.
  • Planeje os dias e semanas com base no que foi aprendido durante o confinamento, priorizando o essencial e relegando o acessório.
  • Separe um momento por dia para se divertir, seja um exercício, uma caminhada ao ar livre ou um filme.
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As crianças são um dos principais grupos que mais sofrem com o confinamento.
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